Maquiavel Pedagogo nos cursos de medicina do Brasil modelo PBL

educaçãoExcelente texto do colunista Rodrigo Constantino, Revista Veja, que fala sobre a doutrinação marxista na faculdades do Brasil, e lógico, nas faculdades de medicina com o modelo de ensino PBL (Problem Based Learning).

Eis o texto:

Começo com um alerta: por mais importante que seja melhorar a educação para o futuro de nosso país, ela não é uma panaceia, uma solução mágica para todos os nossos males.

Basta pensar em Cuba, que teoricamente tem boa educação, mas na verdade possui somente doutrinação ideológica e muita miséria.

Ou na Alemanha, que mesmo com população razoavelmente educada pariu o nazismo. Ou, ainda, na Argentina, que com população mais educada do que a média da América Latina, acabou presa do populismo demagógico de Perón e do casal Kirchner mais recentemente.

Dez em cada dez especialistas apontam a educação como a solução para tudo, mas a pergunta crucial é: qual educação? Simplesmente jogar mais recursos públicos nesse modelo atual não resolve absolutamente nada, e pode até agravar o quadro. 

O governo brasileiro já gasta com educação o mesmo da média da OCDE em relação ao PIB, mas pouco no ensino básico e muito no superior, ambos com qualidade sofrível na melhor das hipóteses.

O foco de mudança precisa ser tanto institucional (que tipo de escola e universidade queremos) como cultural (que tipo de mentalidade desejamos valorizar como sociedade). O primeiro grande pilar para uma boa educação é o conceito de meritocracia, em detrimento ao igualitarismo democrático que nivela todos por baixo.

“Não se pode ensinar a todos no mesmo ritmo, a menos que esse ritmo seja reduzido a ponto de acomodar o menor denominador comum”, disse Thomas Sowell. “De todos os fatores numa escola, certamente o que mais explica a excelência na sala de aula diz respeito à capacidade dos professores de despertar a curiosidade intelectual dos alunos e lhes transmitir conhecimento. A questão é que os diretores das escolas raramente aplicam os critérios certos para rastrear os bons profissionais. O método mais eficaz, sem dúvida, é aderir à meritocracia”, disse Eric Hanuchek.

Como levar isso adiante em um país onde os próprios professores gritam contra a meritocracia, como no caso carioca, ou queimam livros, como no caso paulista? O maior obstáculo para a mudança institucional, portanto, é o corporativismo dos professores, que mais parece uma máfia ou uma extensão partidária da extrema-esquerda. Já no âmbito cultural, é preciso mudar o coletivismo que condena sucesso individual. Tom Jobim já dizia que, no Brasil, o sucesso é visto como pecado.

Importante também é acabar com as cotas raciais. Incapaz de fornecer uma educação básica decente, o governo arromba as portas das faculdades com o critério anticientífico de raça, segregando uma população miscigenada e cuspindo no conceito de meritocracia. Em vez de enxergar indivíduos e seus méritos ou deméritos, olha-se a cor da pele como critério predominante.

Outro pilar importante é focar mais na família do que no estado. Quem realmente se interessa mais pela educação dos filhos: os próprios pais ou os burocratas e políticos distantes em Brasília? Toda utopia coletivista tentou retirar poder dos pais e transferi-lo ao Estado: Platão, More, Skinner. Nas experiências, Esparta, União Soviética, China e Cuba.

Rousseau é o pai dessa mentalidade no mundo moderno: ele amava a “Humanidade”, mas abandonou todos os filhos num orfanato e depois bancou o educador do mundo com seu Emile, delegando ao estado tal função. A exceção não deve ser tomada pela regra: pais são imperfeitos e podem fazer mal aos filhos, mas o Estado é formado por seres humanos igualmente imperfeitos, se não piores, e sem o mesmo mecanismo de incentivos.

William Easterly, do Banco Mundial, lembra-nos que alguns pais podem investir pouco na educação dos seus filhos porque seu valor presente é baixo em um país onde a “amizade com o rei” (conexões) tem mais importância para o sucesso. Por que investir tanto em educação se o malandro ou o vagabundo se deram bem na vida só porque eram amigos de políticos poderosos?

Outro problema de se concentrar o poder da educação no estado, como quer o Projeto Nacional de Educação (PNE) modificado pela Câmara: cria-se uma ditadura da maioria, um tamanho único para todos. Teremos um ensino construtivista ou tradicional? Religioso ou laico? É a morte do pluralismo e da liberdade de escolha das famílias. Por isso tantos americanos têm apelado ao homeschooling, para fugir das imposições “democráticas”. Imaginem como seria se todos votassem e a maioria decidisse qual a única revista do mercado?

As mudanças necessárias para combater esses perigos são: institucional (voucher, que delega o poder de escolha às famílias) e cultural (derrubar o mito de Estado esclarecido, do rei-filósofo abnegado e onisciente, o deus laico da modernidade que vai cuidar de todos nós).

Outro pilar importante de uma boa educação é a valorização do conceito de conhecimento objetivo, vis-à-vis o relativismo exacerbado ou a doutrinação ideológica. Escolas e universidades são lugares onde os alunos deveriam aprender, acima de tudo, a pensar, questionar, refletir, focar nos argumentos, criticar.

Temos visto a gradual substituição desse processo por uma doutrinação ideológica marxista. Pascal Bernardin, em Maquiavel Pedagogo, diz: “Uma revolução pedagógica baseada nos resultados da pesquisa psicopedagógica está em curso no mundo inteiro. Ela é conduzida por especialistas em Ciências da Educação que, formados todos nos mesmos meios revolucionários, logo dominaram os departamentos de educação de diversas instituições internacionais: Unesco, Conselho da Europa, Comissão de Bruxelas e OCDE.”

A ambição moderna da pedagogia social é alterar profundamente os seres humanos, buscar uma “larga e profunda modificação das atitudes sociais em geral”. Os professores passam a adotar uma missão de doutrinadores, de “engenheiros sociais”. A área das exatas sofre menos, mas todos conhecemos o estágio avançado de dominação marxista na área de humanas.

Uma coisa é estudar Marx, importante pensador cujas ideias equivocadas, infelizmente, tiveram grande impacto no mundo; outra, bem diferente, é dar o peso que tem o marxismo nas diferentes áreas de ensino, como se Marx fosse um profeta detentor de uma visão acurada do futuro, ignorando-se toda a experiência histórica e as refutações teóricas que tal doutrina sofreu.

Mas os seus seguidores, inspirados em Gramsci, não querem saber disso. Como o leninismo bélico fracassou no Ocidente, o caminho para o comunismo é dominar a cultura, as instituições formadoras de opinião. John Dewey era um socialista, achava que a inteligência “puramente individual” era um obstáculo antissocial e reacionário ao “avanço” social, que precisava ser derrubado em nome do progresso; Paulo Freire levou a luta de classes para dentro da sala de aula (opressores e oprimidos); e vários como esses dois ajudaram a transformar a educação numa doutrinação marxista.

Bruce Bawer aponta para uma “revolução das vítimas” em curso. Os departamentos das universidades foram tomados por “estudos de minorias”, com forte revisionismo histórico. Sófocles e Shakespeare não são mais clássicos atemporais que desnudam a “natureza humana”, mas um instrumento do imperialismo machista grego ou britânico.

Roger Kimball, em Radicais nas Universidades, vai na mesma linha, e mostra como a educação foi totalmente politizada e ideologizada, como se perdeu o conceito de um cânone tradicional: temos agora “literatura afrodescendente” em vez de apenas literatura. Machado de Assis era mulato, mas o que isso muda no fato de ser um clássico?

“A ideia de que o currículo deva ser alterado de acordo com qualquer propósito partidário é uma perversão do ideal da universidade. O objetivo de converter o currículo em um instrumento de transformação social (de esquerda, direita, de centro ou o que seja) é o exato oposto do ensino superior”, escreveu John Searle. Mas o politicamente correto invadiu e corrompeu as universidades.

Antes um ambiente estimulante para uma educação liberal, uma espécie de conversação contínua com o saber acumulado por gerações e gerações (Michael Oakeshott), hoje as universidades são palcos para panfletos partidários e repetição de slogans ideológicos. A Escola de Frankfurt levou Marx da economia para a cultura, subverteu os valores tradicionais e desconstruiu a busca pelo conhecimento objetivo e desinteressado com seu niilismo.

Não há mais uma hierarquia do saber: jovens alunos que deveriam respeitar a autoridade e manter a humildade, de repente escutaram que vale tudo, que os professores não sabem mais que eles, que não há verdade alguma (relativismo), que ninguém com mais de 30 anos deve ser digno de confiança. Hey, teacher, leave the kids alone!

Resultado: uma tirania da juventude arrogante (reitorias invadidas) e um ensino medíocre, relativista: “nós pega o peixe” é apenas uma forma diferente, e não mais equivocada de se expressar. Valeska Popuzuda é uma grande pensadora contemporânea. Quem se prejudica mais com isso, senão justamente os jovens e principalmente os mais pobres, que têm usurpado o seu direito de aprender de verdade?

Por fim, é preciso combater a “cultura do diploma”. O Currículo Lattes vale mais do que o peso dos argumentos; tudo pelas aparências, não pelos resultados. A paixão pela sabedoria (filosofia) dá lugar à paixão pelo poder (“sabe com quem está falando?”). Acadêmicos presos em uma Torre de Marfim digladiam-se com seus diplomas, negligenciando o verdadeiro valor do conhecimento, da educação.

A universidade sempre será elitista, formadora de lideranças intelectuais; não é para todos, e não há mal algum em reconhecer isso. O Vale do Silício está cheio de “drop-outs”, empreendedores que tiveram uma educação mais adequada para seus fins no mundo dos negócios, na vida prática. Outros podem fazer cursos técnicos, especializantes. Nem todo mundo nasceu para frequentar universidades.

Enfrentar 4 ou 5 anos de vida numa universidade requer muita dedicação, representa um pesado investimento pessoal, e deveria visar a um retorno genuíno, a um engrandecimento do autoconhecimento, uma verdadeira busca da verdade; e não só um pedaço de papel, um título para alimentar o ego narcisista, a vaidade pessoal. O ambiente em nossas universidades está cada vez mais medíocre, levando muitos bons intelectos ou para fora do país ou para fontes alternativas de educação, até mesmo autodidatas.

Conclusão: o Brasil está mais distante da boa e tradicional educação liberal do que Plutão da Terra!

Fonte- Rodrigo Constantino

Acrescento ao texto de Rodrigo Constantino o vídeo do  Canal Escola de Filosofia abordando Paulo Bernardin sobre a  pedagogia esquerdizante nas faculdades do Brasil, e claro a sua maior pérola – O PBL (Problem Based Learning), no qual o aluno não é ensinado e o facilitador de ensino ou “o professor colaborador”, transmitindo pílulas de biopsicossocial, e não de conteúdos temáticos nos cursos de medicina do Brasil;

Um livro que serve como importante alerta a esse perigo é Maquiavel Pedagogo, do francês Pascal Bernardin. O autor afirma, sem rodeios e logo na introdução:

“Uma revolução pedagógica baseada nos resultados da pesquisa psicopedagógica está em curso no mundo inteiro. Ela é conduzida por especialistas em Ciências da Educação que, formados todos nos mesmos meios revolucionários, logo dominaram os departamentos de educação de diversas instituições internacionais: Unesco, Conselho da Europa, Comissão de Bruxelas e OCDE.”.

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