Crises Epilépticas – Classificação ILAE 2010. Seminário. Curso de Medicina da Famema

ilae - vermelhoSeminário dos tipos de convulsões feita pela aluna Nicole do Prado Olbrzymek – 4º ano do curso de medicina – Ambulatório de Cefaleia- Ambulatório Mário  Covas- disciplinas de Neurologia e Educação em Ciências da Saúde Famema.

Os tipos de crises epilépticas: parciais simples, parciais complexas e generalizadas balizam a escolha dos futuros fármacos no tratamento das mesmas.

Apesar de que os sinais e sintomas durante a crise epiléptica possam ser bastante amedrontadores ao público leigo, é fato que as complicações são durante as crises ou no pós-crise, em que a vida do indivíduo e de outrem corre perigo.

A Classificação das Crises Epilépticas de 1981 é ainda a classificação oficialmente aceita pela International League against Epilepsy (ILAE).

Entretanto, o Grupo de Trabalho em Classificação e Terminologia daquele órgão tem discutido e publicado suas avaliações em um processo dinâmico cujo objetivo maior é a identificação dos estudos necessários para a elucidação das incertezas permitindo a elaboração de novas classificações com bases sólidas.

A ILAE sofre revisões em 1989, 1993, 2001, 2005 e 2006  e 2010.

Crise epiléptica é a ocorrência de sinais e/ou sintomas transitórios decorrentes da atividade neuronal excessiva ou síncrona no cérebro.

Os três elementos necessários para a definição de uma crise epiléptica são:

1. Modo de início e término O caráter transitório implica em um início e término, marcos que podem ser delimitados pelo comportamento ou pelo EEG, os quais nem sempre são coincidentes.
2. Manifestações clínicas Uma crise é um evento clínico, com manifestações clínicas objetivas e subjetivas. Assim, manifestações puramente eletrográficas não devem ser consideradas como crises epilépticas.
3. Ocorrência de sincronização neuronal anormalmente aumentada Pode resultar tanto em excitação como em inibição e embora mais frequentemente originada no córtex cerebral, pode se iniciar em sistemas tálamo-corticais ou em estruturas do tronco encefálico.

 

Uma crise epiléptica é a manifestação de um distúrbio cerebral subjacente e deve ser avaliada considerando-se, além de suas características semiológicas, outros fatores como idade do paciente quando de sua ocorrência, dados do exame físico, padrões eletrencefalográficos e resultados de estudos de imagem.

Estas informações devem ser reunidas para possibilitar o diagnóstico sindrômico, fundamental para a determinação do prognóstico bem como para orientar a necessidade de outros procedimentos diagnósticos e a programação terapêutica.

O conhecimento da síndrome epiléptica permite ao clínico formular uma hipótese racional sobre a necessidade do tratamento com medicação antiepiléptica e se assim for, qual delas deve ser escolhida.

Portanto, o primeiro passo na avaliação de uma pessoa com crises epilépticas, é a classificação do(s) tipo(s) de crise(s) e em seguida, a classificação sindrômica.

Classificando as crises epilépticas

A avaliação de uma pessoa com prováveis crises epilépticas, deve se iniciar com a história detalhada referida pelo paciente e por uma testemunha, o exame clínico e a análise de exames complementares como EEG, exames de imagem e de vídeos (vídeo-EEG ou filmagem dos eventos por familiares).

A caracterização das crises requer experiência do profissional para obtenção dos dados e interpretação dos mesmos.

Estes devem incluir: situação de ocorrência (posição do corpo, circunstâncias, sono ou vigília), fatores desencadeantes (fadiga, álcool, privação de sono, estímulos luminosos), padrão dos eventos (isolados ou em grupos, relação com o ciclo menstrual), sintomas premonitórios, descrição da aura e características motoras, manutenção ou não da consciência, queda e sintomas pós-ictais como cefaleia, mialgia, fadiga, mordedura de língua.

A presença de uma testemunha é essencial para a caracterização de sintomas durante as crises e ocorrência de déficits focais bem como na descrição dos sintomas durante o período de recuperação. O esclarecimento do paciente e de seus familiares da necessidade de informações sobre a semiologia das crises possibilitará ainda a classificação mais precisa dos eventos em consultas subsequentes e, assim, maior possibilidade de adesão ao tratamento pelo paciente.

É recomendado o registro em calendário dos efeitos da medicação, tanto sobre o controle das crises como a ocorrência de efeitos colaterais. Esta conduta simples contribuirá significativamente para o sucesso terapêutico.

Caracterização de uma crise epiléptica (realizada na presença do paciente e de uma testemunha dos eventos).

Situação de ocorrência Posição do corpo, circunstâncias, sono ou vigília (despertar, cansaço vespertino)
Fatores desencadeantes Fadiga, álcool, privação de sono, estímulos luminosos e outros menos frequentes como praxia e leitura
Padrão dos eventos Isolados ou em grupos, relação com o ciclo menstrual
Sinais e sintomas premonitórios
Aura
Sinais e sintomas ictais
Sinais e sintomas pós-ictais
Classificação Internacional das Crises Epilépticas

A classificação internacional oficial das crises epilépticas foi publicada em 1981 (Commission, 1981).

Em 2001, foi publicada uma nova proposta das Comissões de Classificação da ILAE. Quatro subgrupos de especialistas propuseram um esquema para a Classificação Internacional das Crises Epilépticas e das Epilepsias subdividido em cinco eixos:

O eixo 1 compreende a classificação da fenomenologia ictal e consta de um glossário no qual são definidos os termos a serem aplicados à descrição dos diferentes tipos de crises epilépticas.

O eixo 2, que compreende a Classificação das Crises Epilépticas, consta de uma lista dos tipos de crises após sua caracterização através da aplicação dos conceitos propostos no eixo 1.

No eixo 3 figuram as Síndromes Epilépticas e no eixo 4, intimamente relacionado a este, a Classificação Etiológica das Doenças Frequentemente Associadas a Crises ou Síndromes Epilépticas.

Finalmente, no eixo 5, está a Classificação do Grau de Comprometimento Psicossocial das Pessoas com Epilepsia, segundo um esquema baseado em proposta da Organização Mundial da Saúde.

Este esquema de classificação em cinco eixos atualiza os conhecimentos na caracterização das crises epilépticas e epilepsia, após pelo menos uma década de contribuição da vídeo-eletrencefalografia, dos estudos estruturais e funcionais do sistema nervoso como ressonância magnética, tomografia por emissão de fóton único, tomografia por emissão de pósitrons e da aplicação de técnicas genéticas.

Classificação das crises epilépticas

Crise epiléptica, é a manifestação resultante da atividade epiléptica excessiva e/ou hipersíncrona, usualmente autolimitada, ou seja, com início e término definidos, de neurônios cerebrais. Quando as mesmas não apresentam curso autolimitado são denominadas crises contínuas e configuram o quadro de status epilepticus.

Status epilepticus é definido como uma crise duradoura, que não mostra sinais clínicos de interrupção após o tempo habitual da maioria das crises daquele tipo na maioria dos pacientes ou ainda a ocorrência de crises recorrentes sem que a função do sistema nervoso central retorne ao período interictal.

As crises epilépticas cursam com graus diferentes de envolvimento muscular. O evento motor consiste de um aumento ou diminuição da contração muscular, o que define um fenômeno positivo e negativo, respectivamente. O aumento da contração muscular pode ser do tipo tônico (significando contração muscular mantida com duração de poucos segundos a minutos), clônico (no qual cada contração muscular é seguida de relaxamento, originando abalos musculares sucessivos) ou mioclônico (contrações musculares muito breves, semelhantes à choques). Diminuição da contração muscular caracteriza as mioclonias negativas e as crises atônicas. Enquanto nas primeiras há interrupção da contração muscular tônica por menos de 500 ms, nas crises atônicas ocorre perda ou diminuição abrupta do tônus muscular por dois ou mais segundos.

Segundo a Classificação Internacional das Crises Epilépticas de 1981 há  três grupos de crises: as parciais ou focais, as generalizadas e as crises não classificáveis.

As crises parciais ou focais, clínica e eletrencefalograficamente, são caracterizadas pela ativação de uma parte do cérebro, sendo subdivididas em crises parciais simples, quando há preservação da consciência e crises parciais complexas, quando há comprometimento da mesma.

As crises generalizadas são aquelas em que há envolvimento, desde o início, de amplas áreas de ambos os hemisférios cerebrais.

São consideradas não classificáveis, as crises que não se enquadram nos dois subtipos acima.

De acordo com a proposição da ILAE de 2001, a classificação passa a ser uma lista dos diferentes tipos de crises que são agora consideradas entidades diagnósticas. Este conceito teve origem na experiência de longos anos em Unidades de Monitorização Vídeo-Eletrencefalográfica. Isto significa que sua classificação se baseia simplesmente nas características semiológicas dos eventos, os quais deixam de apresentar qualquer conotação anatômica ou patofisiológica.

Classificação das Crises Epilépticas – contém os três subgrupos de crises epilépticas, considerando as crises isoladas ou autolimitadas, as repetidas configurando status epilepticus e os fatores precipitantes envolvidos nas crises reflexas, que podem desencadear crises focais ou generalizadas.

  • Crises autolimitadas

– Crises generalizadas

– Crises focais

  • Crises contínuas

– Status epilepticus generalizado

– Status epilepticus focal

Crises generalizadas

Crises generalizadas são aquelas cuja semiologia inicial indica o envolvimento de áreas encefálicas amplas de ambos os hemisférios cerebrais.

Segundo a nova proposta de classificação o termo convulsão, significando episódios de contração muscular excessiva e anormal, mantida ou interrompida, usualmente bilateral, não deve ser utilizado desde que se trata primariamente de um termo leigo e usado inapropriadamente em muitas situações de crises com fenômenos motores.

Tipos de crise generalizadas:

Crises tônico-clônicas

As crises tônico-clônicas (também chamadas crises de grande mal) são caracterizadas por contração tônica simétrica e bilateral seguida de contração clônica dos quatro membros usualmente associadas a fenômenos autonômicos como apneia, liberação esfincteriana, sialorreia e mordedura de língua, durante cerca de um minuto. Na fase de contração tônica o ar pode ser expulso através da glote fechada, o que resulta no grito epiléptico. O período pós-crítico é caracterizado por confusão mental e sonolência.

Crises clônicas

Crises clônicas são caracterizadas pela ocorrência de  contrações musculares repetidas a intervalos regulares, rítmicas, na frequência de 2-3 c/s ocorrendo durante vários segundos a minutos.

Crises tônicas

Trata-se de crises nas quais ocorre contração muscular mantida com duração de poucos segundos a minutos. Em geral, as crises tônicas duram de 10 a 20 segundos e podem comprometer apenas a musculatura axial (crises tônicas axiais) ou também a das raízes dos membros (crises tônicas axorizomélicas) ou então todo o corpo, configurando a crise tônica global.

Crises de ausências típicas

Crises de ausência típica consistem de breves episódios de comprometimento de consciência acompanhados por manifestações motoras muito discretas como automatismos orais e manuais, piscamento, aumento ou diminuição do tônus muscular e sinais autonômicos. Duram cerca de 10 a 30 segundos e apresentam início e término abruptos, ocorrendo, em geral, várias vezes ao dia. São desencadeadas por hiperventilação, ativação de tal forma importante que a não observação da crise clássica durante a hiperventilação por 3 a 5 minutos em um paciente não tratado, deve colocar em dúvida este diagnóstico.

Crises de ausências atípicas

Nestas crises o comprometimento da consciência é menor, o início e término são menos abruptos e o tono muscular mostra-se frequentemente alterado. Em geral, não são desencadeadas pela hiperpneia.

Crises de ausências mioclônicas

Crises de ausências acompanhadas de perda de consciência e manifestações motoras importantes que incluem abalos mioclônicos bilaterais dos ombros, braços e pernas associados à contração tônica discreta a qual ocasiona elevação dos membros superiores, os mais acometidos pelo fenômeno motor.

Espasmos

Também denominados espasmos epilépticos, são caracterizados por contração tônica rápida, com duração de 1 a 15 segundos, da musculatura do pescoço, tronco e membros podendo assumir caráter em flexão ou em extensão.

Esta contração é usualmente mais mantida do que as mioclonias, mas não tão prolongada como nas crises tônicas (sua duração é de cerca de 1 segundo). Podem ocorrer formas limitadas com contração da musculatura facial ou queda da cabeça. Ocorrem em salvas, especialmente ao despertar e durante sonolência. No lactente, são frequentemente acompanhados de choro e quando não presenciados pelo médico podem ser confundidos com cólicas, um diagnóstico que pode retardar a terapêutica adequada comprometendo o prognóstico.

Crises mioclônicas

Mioclonias são contrações musculares súbitas, breves (< 100 ms), que se assemelham a choques. Podem afetar a musculatura facial, o tronco, uma extremidade, um músculo ou um grupo muscular e podem ser generalizadas, ocorrendo de forma isolada ou repetida. As crises mioclônicas são frequentemente precipitadas por privação de sono, despertar ou adormecer.

Mioclonias palpebrais

Consistem em contrações rápidas das pálpebras ao fechamento dos olhos, o que ocasiona piscamento rápido, acompanhado de desvio dos globos oculares para cima. Este fenômeno pode aparecer de forma isolada ou ser acompanhado de crises de ausências muito breves com duração de apenas alguns poucos segundos.

Crises mioclono-atônicas

Encontradas principalmente em epilepsias da infância, estas crises são caracterizadas por abalos mioclônicos nos membros superiores, geralmente em flexão, seguidos de perda do tono muscular com queda da cabeça e flexão dos joelhos.

Mioclonias negativas

São episódios curtos (< 500 ms) de atonia muscular provavelmente decorrentes de inibição súbita da inervação tônica dos motoneurônios alfa. Na maioria dos casos descritos na literatura o fenômeno de mioclonias negativas generalizadas esteve presente em anormalidades cerebrais difusas como na doença de Lafora e nas encefalopatias mitocondriais enquanto as mioclonias negativas focais ocorrem em distúrbios da região perirrolândica, como nas displasias corticais e na síndrome de Rasmussen.

Crises atônicas

Caracterizadas por perda ou diminuição súbita do tono muscular envolvendo a cabeça, tronco, mandíbula ou membros, as crises atônicas são decorrentes de perda do tônus postural podendo promover queda lenta se o indivíduo estiver em pé.

Crises focais

 Crises focais são aquelas cujas manifestações clínicas indicam o envolvimento inicial de apenas uma parte de um hemisfério cerebral.

As crises focais podem, com a propagação das descargas, evoluir para crises tônico-clônicas generalizadas.

É o que se chama crise focal com generalização secundária. Os sinais subjetivos que antecedem uma crise observável e que o paciente é capaz de descrever constituem a aura.

A aura pode ocorrer de forma isolada constituindo uma crise sensitivo-sensorial.

 Crises focais sensitivo-sensoriais

Incluem sintomas simples, ou seja, aqueles que envolvem apenas uma modalidade sensorial primária (elementares) e mais elaborados (complexos).

Com sintomas sensitivo-sensoriais elementares

Neste grupo o fenômeno epiléptico é representado por auras (uma vez que tratam-se de manifestações subjetivas, que não são detectáveis por um observador).  Entre elas figuram crises sensitivas (parestesias, dor e sensações viscerais como a sensação epigástrica) e as crises sensoriais ( visuais,  auditivas, olfatórias, gustativas).

Com sintomas experienciais(complexas)

Consistem de alucinações multisensoriais que configuram “experiências” e incluem fenômenos perceptuais afetivos (medo, depressão, alegria e mais raramente, raiva) e manifestações mneumônicas envolvendo ilusões e alucinações cuja qualidade é similar àquelas experimentadas normalmente, porém reconhecidas pelo indivíduo como algo que ocorre fora do contexto real e às vezes de conteúdo extraordinariamente vívido. Neste grupo encontramos fenômenos como déjà e jamais vu, déjà e jamais entendu, déjà e jamais vécu (sensação de familiaridade e estranheza de cenas, sons e experiências de vida), estados de sonho e alucinações complexas.

Crises motoras focais

Crises motoras são aquelas nas quais os fenômenos motores constituem a manifestação predominante na semiologia crítica.

Com sinais motores elementares clônicos

São caracterizadas por contrações musculares que recorrem de forma regular a intervalos menores do que 1 a 2 s. Crises com sinais motores elementares clônicos são originadas, quase sempre, pela ativação do córtex motor primário contralateral.

Crises motoras tônicas assimétricas ou simétricas

São crises em que a contração desigual ou assíncrona de grupos musculares de ambos os lados do corpo produz posturas assimétricas decorrentes da contração tônica de um único membro, de um hemicorpo ou dos quatro membros. Usualmente breves, durando 10 a 40s, têm início abrupto e podem ser acompanhadas por grito ou murmúrio. A consciência em geral é preservada e não há confusão pós crítica.

Crises com automatismos típicos do lobo temporal

Automatismos são movimentos coordenados e repetitivos que se assemelham a movimentos voluntários. Em geral, nas crises do lobo temporal, os automatismos envolvem as partes distais dos membros, particularmente os dedos, mãos, língua e lábios (oro-alimentares) e frequentemente, mas não sempre, são associados a comprometimento da consciência.

Crises com automatismos hipercinéticos

Nestas, o movimento afeta principalmente a parte proximal dos membros, o que resulta em movimentos importantes os quais, quando rápidos, parecem violentos. Incluem movimentos como pedalar, de impulsão pélvica e de balanceio de todo ou de parte do corpo.

Crises com mioclonias negativas focais

Caracterizam-se por breves períodos de atonia focal com perda do tônus postural que podem ser evidenciados quando o paciente exerce uma atividade tônica com a parte do corpo afetada pelo fenômeno motor negativo.

Crises motoras inibitórias

Embora raramente observados como manifestações críticas, paresia de membros ou períodos de afasia (crises afásicas) podem ser decorrentes de descargas epilépticas repetitivas envolvendo o córtex motor.

Crises gelásticas

Nestas crises o riso, de caráter incomum, estereotipado e inapropriado, constitui o fenômeno complexo mais importante das manifestações críticas. Classicamente associadas aos hamartomas hipotalâmicos, podem também ser verificadas em epilepsias dos lobos frontal ou temporal.

Crises hemiclônicas

São crises que apresentam todas as características clínicas das crises generalizadas tônico-clônicas, porém as manifestações motoras são observadas unicamente ou de modo predominante em um só lado do corpo. Quando estas crises são prolongadas podem cursar com dano hemisférico, configurando a síndrome da hemiconvulsão-hemiplegia-epilepsia.

 Estado atual da Classificação das Crises Epilépticas

A proposta da ILAE de 2010 tem sido objeto de acirrada discussão conceitual e está longe de ser resolvida.

A Associação Brasileira de Medicina de Tráfego tem uma diretriz especial para os condutores de veículos, que, em tese, possam apresentar epilepsia.

A presença constante de convulsões em condutores de veículos é extremamente perigoso, e por isso deve o mesmo fazer uma declaração junto ao Detran, ao requerer sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH), assumindo ter convulsões/epilepsia, e como está o seu tratamento.

Ao assumir o risco de ser condutor de veículo nessa condição, assume também possíveis indenizações na esfera civil e penal.

Epilepsia e CNH não combinam!

Lutemos por uma Saúde Pública com qualidade !

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III Diretriz ICC-Sociedade Brasileira de Cardiologia

icc - ginasticaNa Diretriz  da Sociedade Brasileira de Cardiologia há toda a revisão bibliográfica sobre os principais artigos que  discutem a farmacologia, sobrevida cardiovascular,  classificação clínica e tratamento da ICC.

A Insuficiência Cardíaca Congestiva   (ICC) é causa frequente de internação hospitalar, e seu manejo clínico adequado diminui a mortalidade cardiovascular, pois sabidamente o bloqueio do sistema nervoso simpático e do sistema renina-angiotensina-aldosterona reduz a disfunção ventricular.

O protocolo de tratamento de ICC é idealizado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia após análise de inúmeros trabalhos científicos que discutem as várias classes de fármacos utilizados no tratamento: diuréticos, alfa e beta bloqueio do sistema nervoso simpático, antagonistas de cálcio, inibidores da enzima conversora e bloqueadores de angiotensina II.

Insuficiência cardíaca é a incapacidade de o coração manter fluxo sanguíneo suficiente para atender demandas metabólicas sem aumento anormal de pressões de enchimento ventricular.

Decorre de anormalidades de esvaziamento (função sistólica ou inotrópica) ou de enchimento ventricular (função diastólica).

Independentemente da etiologia, a insuficiência funcional provoca aumento de pressões de enchimento do ventrículo acometido e de pressões venosas a montante.

A intensidade da insuficiência cardíaca é clinicamente classificada pelo grau de limitação funcional, o que confere razoável predição prognóstica.

Muitos ensaios clínicos utilizam a classificação funcional como critério de seleção de pacientes e avaliação de eficácia.

O tratamento da insuficiência cardíaca objetiva diminuição de sintomas, melhora de qualidade de vida e aumento de sobrevida.

Definidos benefícios provêm de múltiplas medidas não medicamentosas e diferentes fármacos (inibidores da enzima de conversão de angiotensina, bloqueadores de receptores de angiotensina, betabloqueadores adrenérgicos e digoxina).

Alguns são usados em associação, quer para aumentar a eficácia, quer para exercer efeito corretivo sobre reações adversas comuns.

Tratamento combinado de bloqueadores de receptores de angiotensina II ou por inibidores da enzima de conversão de angiotensina leva a maior redução de mortalidade cardiovascular e de admissões hospitalares por insuficiência cardíaca.

Medicamentos utilizados no tratamento de insuficiência cardíaca para melhora de sintomas, sem afetar mortalidade, compreendem digitálicos e diuréticos.

Vasodilatadores (particularmente inibidores da enzima de conversão da angiotensina II) e betabloqueadores adrenérgicos mostraram ser capazes de aumentar sobrevida em diversos ensaios clínicos.

Espironolactona, administrada em pacientes graves já em uso de outros tratamentos, reduz mortalidade, mas aumenta o risco de hipercalemia.

O conhecimento da  Diretriz  de ICC possibilita a condução dos casos clínicos em suas quatro classes clínicas.

Lutemos por uma Saúde Pública com qualidade !

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Fisiopatogenia da Migrânea ou Enxaqueca. Seminário. Curso de Medicina da Famema

enxaqueca - meninaSeminário realizado no Ambulatório de Cefaleia –  Ambulatório Mário Covas –  disciplinas Neurologia e Educação em Ciências da Saúde – pelos alunos do 4º ano do curso de medicina da Famema  Lucas Herculano dos Santos Silva, Mariah Guieiro Alves dos Reis, Rhaissa Heinen Peixoto e Rodrigo Takeshi Omoto –  abordando a fisiopatogenia da enxaqueca ou migrânea.

A enxaqueca ou migrânea é uma cefaleia primaria que acomete em média 10%  da população em alguns países.

No Brasil há nítido predomínio na região sudeste em relação a outras regiões, mas é sempre mais prevalente no sexo feminino.

A compreensão dessa importante doença neurológica se explica pela perda de até 4 dias/ano/paciente em empresas onde haja indivíduos com enxaqueca.

Há uma perda laboral nas crises migranosas de maneira não desprezível.

Uma cefaleia primária que pode ser considerada uma das principais causadoras de absenteísmo nas empresas.

De acordo com a classificação de cefaleias da International Headache Society, os principais tipos de migrânea são a sem aura e a com aura. A primeira é conhecida como a enxaqueca comum, em que a dor costuma apresentar duração, características e fenômenos associados típicos, porém não é acompanhada de sintomas ou sinais neurológicos focais transitórios, como ocorre na migrânea com aura.

A crise migranosa divide-se em quatro fases: fase premonitória, aura, cefaleia e fase de resolução.

Essas fases não estão necessariamente presentes em todos os casos.

Os sintomas premonitórios ocorrem até 48 horas antes da crise em 60% dos pacientes.

Os sintomas mais comuns são: alteração do humor, irritabilidade, hiperatividade, sonolência, dificuldade de concentração, bocejar excessivo, hiperosmia, foto e fonofobia, diarreia ou constipação, sede, poliúria, retenção de fluidos, anorexia e apetência por alimentos específicos.

Na migrânea com aura, estão presentes os sintomas neurológicos focais que se instalam de forma gradual, geralmente em 5 a 20 minutos, durando  até 60 minutos ou menos, ocorrendo, na maioria das vezes, antes da fase de dor.

Os sintomas mais comuns são os fenômenos visuais positivos (cintilações, linhas em zigue-zague) e ou negativos (escotomas), seguidos por hemiparestesias e por disfasia.

A cefaleia geralmente é de localização unilateral, de intensidade moderada a forte, de caráter pulsátil e que piora com as atividades físicas rotineiras. Pode ter início em qualquer momento do dia, estendendo-se por horas a dias.

Na maioria dos casos de cefaleia, a história clínica é o principal fator para a elaboração do diagnóstico correto, complementada pelo exame físico.

Elementos fundamentais a serem abordados em casos agudos de cefaleia:

TIPO DE CRISE: as cefaleias primárias tais como a migrânea e a tensional costumam ser cronicamente recorrentes, seguindo sempre um mesmo padrão nos episódios de exacerbação. Uma mudança nesse padrão deve alertar a possibilidade de alguma patologia estrutural intracraniana subjacente.

LOCALIZAÇÃO: a cefaleia tipo tensional é habitualmente generalizada, descrita na maioria dos casos como uma dor em aperto ou “como uma faixa em torno da cabeça”. Na migrânea é mais comum
a dor unilateral.

INTENSIDADE DA DOR: é importante na classificação do tipo de cefaleia e, por isso, para o tratamento mais adequado.

Para classificar a intensidade da dor, podem ser utilizadas diversas escalas consagradas.

A escala numérica é a mais utilizada, quando o médico assistente pergunta ao paciente, numa escala de 0 a 10, significando zero ausência de dor e 10, dor incapacitante. Essa escala também pode
ser utilizada para o acompanhamento de pacientes com quadros álgicos crônicos.

MODIFICAÇÃO COM ATIVIDADES ROTINEIRAS: dor da migrânea costuma ser pulsátil e piorar com atividade física rotineira, enquanto a cefaleia tipo tensional não piora, na maioria dos casos.

HORÁRIO DE INÍCIO: as crises de migrânea podem ocorrer em qualquer hora do dia, mas ocorrem mais no início da manhã ou pela madrugada, acordando o paciente. Já a crise de cefaleia tensional tem início no período da tarde, durando até a noite, sem acordar o paciente.

FENÔMENOS ASSOCIADOS: podem estar presentes fatores associados ao desencadeamento da crise de migrânea, tais como: estresse, insônia ou hipersonia, estímulos sensoriais, ingestão de alimentos gordurosos, menstruação e esforço físico. No caso da cefaleia tipo tensional, o estresse pode estar associado.

SINTOMAS ASSOCIADOS: nas crises de migrânea, é muito comum encontrar náuseas e ou vômitos, fotofobia e fonofobia. Caso ocorram vômitos em jato, sem náuseas, pode ser um caso de hipertensão intracraniana qualquer que seja a etiologia. Nos processos infecciosos do sistema nervoso central, temos náuseas, vômitos, fotofobia e irritabilidade.

FATORES DE MELHORA: na migrânea e nas cefaleias que têm como mecanismo fisiopatogênico uma dilatação das artérias cranianas, todos os procedimentos que diminuem o aporte de sangue para
o segmento cefálico (escalda-pés, compressão digital da artéria carótida externa ou da temporal superficial, aposição de gelo no local da dor) melhoram a intensidade da dor.

FATORES DE PIORA: a dor da migrânea acentua-se com os esforços físicos, o balanceio brusco da cabeça, o pisar forte, bem como com quaisquer procedimentos que aumentem o fluxo sanguíneo cerebral, o que acontece também nas cefaleias que têm como causa um aumento da pressão intracraniana.

INFLUÊNCIA HORMONAL: nas pacientes do sexo feminino, as crises de migrânea habitualmente se iniciam na puberdade, só ocorrem ou são mais intensas nas fases menstruais, podem se agravar com o uso de anticoncepcionais orais e de reposição hormonal e melhoram ou mesmo desaparecem com a gravidez.

ANTECEDENTES PESSOAIS: na migrânea encontra-se história pregressa de vômitos cíclicos quando criança, vertigem paroxística benigna e enjoo de viagem.

Crises convulsivas, principalmente se ocorrer durante esforço físico ou cefaleias abruptas mal diagnosticadas, sugerem a presença de
uma malformação vascular intracraniana.

A existência de traumas cranianos, da coluna cervical ou do pescoço é a chave para o diagnóstico das várias formas clínicas das cefaleias pós-traumáticas.

Antecedentes de infecção sinusal ou do ouvido podem levar à suspeição de uma tromboflebite de veias ou seios venosos encefálicos ou de abscesso cerebral.

Por fim, os hábitos de vida, alimentares e higiênico-dietéticos devem ser pesquisados, pois podem permitir o correto diagnóstico.

ANTECEDENTES FAMILIARES: a história familiar de cefaleia é referida por cerca de 70% dos casos de migrânea, percentual que chega a 100% quando se trata de migrânea hemiplégica familiar.

O Ambulatório de Cefaleia recebe encaminhamentos de usuários do SUS do Departamento Regional de Saúde IX do Estado de São Paulo.

Lutemos por uma Saúde Pública com qualidade !