PBL em cursos de medicina. Novidade no ensino superior ou interesses macroeconômicos neoliberais?

lupa vermelhaAo se pensar na atividade de ensinar e aprender, é difícil escapar da imagem tradicional que se projeta em nossas mentes.

O professor que transmite o conhecimento a um aluno pronto para absorver ao máximo os ensinamentos do mestre.

É  mister que o desempenho do pupilo depende deste professor que guia, inspira e indica outras fontes seguras de conhecimento.

No  Século  XX, foram surgindo uma série de tentativas de atribuir ao aluno um papel  mais ativo, mais independente e responsável por seu aprendizado.

Nascido nos anos 1960, o PBL (Problem Based Learning), ou ABP (Aprendizado Baseado em Problemas) é uma das propostas de ensino.

No Brasil, tem crescido o interesse por esse modelo de ensino.

Essa crescente busca por esse modelo de ensino é mais do que suficiente para que sejam levantadas questões sobre os interesses sociais e econômicos envolvidos nessa nova maneira de aprender e ensinar, bem como sobre suas raízes históricas e filosóficas.

Para Newton Duarte, professor e pesquisador do Departamento de Psicologia da Educação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o PBL tende a valorar de forma negativa justamente aquilo que seria fundamental à educação: “o papel do professor como aquele que domina um conhecimento teórico que dará bases mínimas para que o aluno identifique o que é essencial nos problemas com que se depara; isso fica profundamente descaracterizado no PBL”.

Para Duarte, no PBL “perde-se a referência naquilo que deveria fazer parte do conteúdo básico que o profissional deveria possui. Assim, o aluno assimila o conhecimento de maneira mais ou menos casual, quase acidentalmente”.

A ênfase na prática em detrimento de uma formação teórica mais sólida atenderia a determinados interesses econômicos.

Nos parece que: pensando na área da medicina, o “aprender a aprender” pode contribuir a curto prazo para que sejam formados profissionais que tornariam-se menos inclinados a questionar criticamente o conhecimento produzido pelos grandes laboratórios da indústria farmacêutica, e pela grande quantidade de tecnologias oferecidas no Século XXI.

Essa fundamental interação social entre experientes conhecedores e aprendizes perde-se com o PBL – dada a ênfase no trabalho coletivo, e no aprendizado do indivíduo com seus pares.

Uma outra faceta desse mesmo problema foi levantada por H. Coenraad Hemker, professor e pesquisador da holandesa Universidade de Maastricht em artigo publicado em  2001 que assevera : “O PBL torna a identificação com um professor por parte dos alunos quase impossível”.

Hemker, cuja experiência como docente inclui o PBL, afirma que a identificação com a figura de um professor é essencial para o aprendizado, inclusive na idade adulta.

Qual é exatamente a contribuição do PBL para melhorar o ensino no Século XXI ?

Talvez só o tempo poderá dizer se a metodologia PBL será uma força libertadora e encorajadora da reflexão e do pensamento crítico, ou nos afogará num oceano de estreiteza teórica e conhecimento prático,  interessante  apenas para um mercado de trabalho que exige formação técnica em vez de pensadores críticos.

A tendência de adoção crescente do ABP é mundial, na opinião da médica Eliana Goldfarb Cyrino, professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu (SP), que não implantou o método. “O que muitas vezes me preocupa é a sensação de que algumas escolas passaram a trabalhar com a ABP sem ter o necessário embasamento teórico para a mudança, sem crítica, e então podemos ter consequências muito graves”, pondera a professora, que argumenta que se trata de uma reforma curricular metodológica ampla, que exige cuidado da escola e envolvimento e formação dos professores para implementá-la.

Nas pesquisas internacionais em ensino em faculdades  de medicina utilizando ABP ( 2009) apontam para o menor conhecimento em fisiopatologia, à dificuldade do entendimento do processo saúde-doença,  e da terapêutica entre outros aspectos, em comparação aos resultados alcançados pelos cursos tradicionais de medicina.

Em  síntese, o modelo ABP em escolas de medicina sem tutores que tenham conhecimento do “caso clínico ou problema” a ser discutido, falta de laboratórios para ensino (anatomia, histologia, fisiologia, farmacologia, microbiologia, parasitologia e patologia), falta de conferências com especialistas para nivelar os conteúdos temáticos desenvolvidos nos “casos clínicos ou problemas” das tutorias de todos os alunos da série, e ainda a falta de estágio supervisionados por professores da faculdade levam  inexoravelmente ao caos no ensino superior.

É importante lembrar que nem tudo que é vanguarda no ensino é o ideal.

Velho é diferente de antigo.

Velho não se usa mais.

Antigo é antônimo de novo.

Sem professores, sem laboratórios, sem conferências para alinhamento dos conteúdos dos diversos cenários de ensino-aprendizagem teremos uma fiasco pedagógico.

Muitos alunos com certeza farão cursos preparatórios, pois que no modelo PBL não há necessidade de se ensinar conteúdos na grade curricular de medicina, mas somente o aprender a aprender.

Os proprietários de cursos preparatórios para ingresso em Residência Médicas como Med Curso e SJT  agradecem o descaso no ensino de conteúdos temáticos na faculdades de medicina.

Os cursos  preparatórios viraram uma febre para se ganhar muito dinheiro na última década.

A necessidade de provas para alunos egressos do curso de medicina será inexorável, pois os conteúdos de temas de medicina não são oferecidos na matriz curricular.

Em defesa do ensino de qualidade nos cursos de medicina!

“A suprema arte do professor é despertar a alegria na expressão criativa do conhecimento, dar liberdade para que cada estudante desenvolva sua forma de pensar e entender o mundo, assim criamos pensadores, cientistas e artistas que expressarão em seus trabalhos aquilo que aprenderam com seus mestres”

Albert Einsten


2 comentários em “PBL em cursos de medicina. Novidade no ensino superior ou interesses macroeconômicos neoliberais?”

  1. Prof. Dr. Milton Marchioli, permita-me discordar. A ABP ou PBL é uma metodologia que vem sendo implementada, com sucesso, mundo afora desde o final da década de 60. Existe vasta literatura relacionada a esta metodologia e as opiniões dadas no texto me parecem bastante superficiais. Ouviram o galo cantar mas não sabem aonde! O currículo, numa instituição séria, é concebido com extremo rigor e os problemas a serem trabalhados são construídos com muito cuidado de forma a contemplar todo o conteúdo do currículo, além de desenvolver competências e habilidades outras, como: capacidade de observação, reflexão, julgamento, comunicação, convívio, cooperação, decisão e ação, sempre sob orientação do professor. Assim, não existe nada de acidental na aprendizagem. É uma metodologia que dá ao aluno responsabilidade sobre a construção do seu conhecimento interagindo de forma ativa com professor e colegas. Não exclui a utilização de nenhum outro método de ensino que o professor julgar necessário, incluindo a utilização de laboratórios e participação em conferências, para esclarecer dúvidas dos alunos. Concordo com a professora de Botucatu, quando diz que a implementação da ABP necessita de embasamento. São necessários conhecimento sobre a metodologia, estrutura e profissionais realmente comprometidos, caso contrário, não funciona mesmo, vira bagunça. Enfim, minha visão é oposta a do texto, porém, independentemente da posição contra ou a favor, é necessário embasamento para discutir este tema com seriedade.

  2. Boa noite, professor! Fiquei profundamente assustada e chocada com esse método! Estava tão animada estudando incansavelmente as provas da PUC, contando os dias para o vestibular, mas agora estou em estado de choque. Marília seria uma excelente opção para mim: mais perto da minha família, uma ótima cidade, prática em todos os sentidos, mas não quero confiar 6 anos da minha vida a um sistema como esse, não acredito que seria uma boa médica. O curso tradicional fornece os conhecimentos básicos, iniciais e aprofundados para que o aluno realmente saiba o que está e estará fazendo, depois de formado. Pelo amor de Deus, que curso é esse que não tem AULA? Achei essa ideia inconcebível. Fico imaginando um aluno de 17 anos que ingresse em um curso de medicina com metodologia PBL. Ele aprenderá o que é gripe antes de conhecer a fisiologia humana? Acho que é assim que se forma um médico com o lema: “dipirona e descanso”. Eu faço mestrado e estudo câncer de mama, além de fazer cursinho para medicina. Com redes tão bem conectadas, mecanismos celulares totalmente integrados, tantas vezes uma característica fenotípica “monstruosa” depende de conexões gênicas tão implícitas que mesmo estudando MUITO, não conseguimos enxergar. Então, PELO AMOR DE DEUS (de novo), aonde esse tal de PBL quer chegar? Quer levar a humanidade ao caos? Se mesmo estudando por conta e tendo aulas específicas, debates com professores maravilhosos, congressos, mais disciplinas, mais estudo, mais aulas…já está difícil, imagine ter um problema (uma doença) para resolver sem sequer conhecer o MÍNIMO de morfologia, fisiologia, citologia, biologia celular, e etc! Para mim, a FAMEMA não é mais uma opção. De jeito nenhum. Obrigada pelas informações do blog, foi ótimo para que eu tirasse muitas dúvidas! E parabéns pela iniciativa e pela coragem!

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